Para os Iniciados
E por falar em Einstein (o verdadeiro), é bom notar um artigo escrito
pelo filósofo Huberto Rohden, publicado em sua obra Einstein, o Enigma
da Matemática1.
Rohden, natural de Tubarão, formou-se em Filosofia e
Teologia em universidades européias; publicou vários livros por
importantes editoras do país. Estudou em Princeton, quando teve
oportunidade de conviver com o gênio Einstein. Lá, lecionou na American
University (Washington, D.C.) nas cátedras de Filosofia Universal e
Religiões Comparadas. Durante a II Grande Guerra, serviu ao Bureau of
Inter-American Affairs, no corpo de tradutores de notícias de guerra.
Eis seu artigo, já citado:
A Realidade Simultânea e as Facticidades Sucessivas
No
capítulo 10 “O Novo Messias”, da obra “Eintein, The Life and Times“, de
Ronad W. Clark, Erwin Schroedinger2 (páginas 249/50) escreve que a
“time table” (tabela do tempo) de Einstein não parece ser uma coisa tão
séria como parece à primeira vista. “Este pensamento é um pensamento
religioso, ou antes deveríamos chamá-lo o pensamento religioso” de
Einstein.
Aqui Schroedinger toca no pivot da questão, que muitos
sentem e poucos sabem ou ousam expressar. A teoria de Einstein está
baseada numa visão de simultaneidade e ignora tempo e espaço; não
obedece a uma análise de sucessividade, que conhece duração de tempo e
dimensão de espaço.
Já nos tempos de Immanuel Kant – cuja vida,
aliás, tem muitos pontos de contato com a de Einstein – foi discutida a
tradicional concepção de tempo e espaço; e o solitário eremita de
Koenigsberg, depois de mais de meio século de paciente incubação, fez
eclodir a verdade de que o tempo e espaço são categorias subjetivas dos
nossos sentidos, e não realidades objetivas do mundo externo. Tempo e
espaço são, para Kant, como um par de óculos que fazem parte da natureza
humana, através dos quais o homem percebe todas as coisas; mas, como o
homem ignora esses seus óculos tempo-espaço, ou seja, duração-dimensão,
vive na permanente ilusão de que esta dupla sucessividade faça parte do
mundo objetivo3. Já observara Kant que nada é sucessivo em si, mas tudo é
sucessivo em mim; a pseudo-sucessividade está nos meus sentidos, não na
realidade; esta é totalmente simultânea, independente de tempo
(sucessividade duracional), e de espaço (sucessividade dimensional). A
simultaneidade induracional se chama “Eterno (ausência de tempo), e a
simultaneidade indimensional se chama “Infinito” (ausência de espaço).
Por que é que o homem é uma permanente vítima da ilusão de tempo e espaço?
A
fim de poder existir como indivíduo. Os nossos sentidos, diz Aldous
Huxley, são válvulas de redução e de retenção, graças às quais o homem
existe como indivíduo (ex-sistir = ser colocado para fora). Se o homem
sofresse o impacto total da Realidade, da Luz Integral do Ser, seria
aniquilado. O homem existe graças às suas limitações. tempo e espaço são
como que luzes suavemente dosadas para que o indivíduo humano possa
suportá-las indene.
Voltando ao nosso ponto de partida, Schroedinger
afirma que essa visão de Einstein sobre tempo e espaço é “o pensamento
religioso” dele. Repetidas vezes, o autor do recente livro sobre
Einstein, Ronald W. Clark, frisa este fato paradoxal de que Einstein era
um cientista que muito falava em Deus. Os cientistas materialistas do
século 19 evitavam cuidadosamente usar a palavra Deus, com medo de
empanarem o esplendor da sua glória de cientistas autênticos e 100%
sérios. J. W. Hauer, no seu livro monumental Der Yoga, explica esse
pavor supersticioso de muitos cientistas ocidentais, ao passo que no
oriente não ocorre essa superstição anti-divina e anti-religiosa. No
oriente, Deus e religião nada têm que ver com teologias, seitas,
igrejas, grupos sectários, como muitas vezes acontece no ocidente; no
oriente Deus é a alma do Universo, a suprema e universal Realidade; e a
religião é a re-ligação consciente do homem com esse poder Infinito,
perfeitamente compatível com a ciência do homem. No oriente o verdadeiro
sábio é o santo.
Quando Clark apresenta Einstein como um homem
profundamente religioso, e quando Schroedinger vê na idéia da
simultaneidade de tempo e espaço de Einstein o pensamento religioso
dele, voltam eles ao conceito de religião no verdadeiro sentido
filosófico do termo: de re-ligar.
Einstein nunca professou sectarismo
de espécie alguma, mas foi um homem profundamente religioso, no sentido
da matemática, da metafísica e da mística. Para os teólogos deve ele
ter diso um ateu – mas para os verdadeiros filósofos era um místico, no
bom sentido do termo.
Na sua visão de simultaneidade de tempo e
espaço se encontraram, no espírito de Einstein, a suprema e única
Realidade da matemática, da metafísica e da mística.
A constante
insistência que Einstein faz no fato de que “o princípio creador reside
na matemática” e que a concentração no UNO do Universo faz descobrir as
leis do Verso, este fato só é compreensível à luz da única e suprema
Realidade do Universo, a que os homens podem dar quantos nomes quiserem,
mas que não deixa de ser a única Realidade verdadeira, na qual os
homens enxergam tantas facticidades ilusórias.
COMENTÁRIO:
Fiz
questão de frisar aquela passagem em que Rohden exemplifica sobre os
óculos de Kant. Penso que mereça ser lida com paciência e,
kantianamente, com boa vontade.
O leitor arguto (sem querer chamar
mais a atenção do que devo) notará que há uma mudança de eixo ou,
digamos, uma transvaloração, ou ainda uma certa obliqüidade, bem a
propósito, quando Rohden dá uma pista interessantíssima sobre a questão
de tempo e espaço, não lá fora, mas cá dentro – como se (aliás, como
não… mas exatamente na forma em que se deve pensar) Kant e Einstein se
completassem, em teoria e prática (ousando dizer que Einstein praticou
Filosofia com Física… mas o leitor há de perdoar-me a metáfora!).
Rohden
pode parecer “religioso demais” ou “místico demais” para muitos. Eu,
com sua licença, continuo a dizer: há mais coisas escondidas no que diz
Rohden, que supõem nossas vãs filosofias!
postado por Ramiro (11/12/2007)
http://www.filosofix.com.br/blogramiro/?p=326
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