sexta-feira, 25 de maio de 2012

Para os Iniciados


E por falar em Einstein (o verdadeiro), é bom notar um artigo escrito pelo filósofo Huberto Rohden, publicado em sua obra Einstein, o Enigma da Matemática1.
Rohden, natural de Tubarão, formou-se em Filosofia e Teologia em universidades européias; publicou vários livros por importantes editoras do país. Estudou em Princeton, quando teve oportunidade de conviver com o gênio Einstein. Lá, lecionou na American University (Washington, D.C.) nas cátedras de Filosofia Universal e Religiões Comparadas. Durante a II Grande Guerra, serviu ao Bureau of Inter-American Affairs, no corpo de tradutores de notícias de guerra.
Eis seu artigo, já citado:
A Realidade Simultânea e as Facticidades Sucessivas
No capítulo 10 “O Novo Messias”, da obra “Eintein, The Life and Times“, de Ronad W. Clark, Erwin Schroedinger2 (páginas 249/50) escreve que a “time table” (tabela do tempo) de Einstein não parece ser uma coisa tão séria como parece à primeira vista. “Este pensamento é um pensamento religioso, ou antes deveríamos chamá-lo o pensamento religioso” de Einstein.
Aqui Schroedinger toca no pivot da questão, que muitos sentem e poucos sabem ou ousam expressar. A teoria de Einstein está baseada numa visão de simultaneidade e ignora tempo e espaço; não obedece a uma análise de sucessividade, que conhece duração de tempo e dimensão de espaço.
Já nos tempos de Immanuel Kant – cuja vida, aliás, tem muitos pontos de contato com a de Einstein – foi discutida a tradicional concepção de tempo e espaço; e o solitário eremita de Koenigsberg, depois de mais de meio século de paciente incubação, fez eclodir a verdade de que o tempo e espaço são categorias subjetivas dos nossos sentidos, e não realidades objetivas do mundo externo. Tempo e espaço são, para Kant, como um par de óculos que fazem parte da natureza humana, através dos quais o homem percebe todas as coisas; mas, como o homem ignora esses seus óculos tempo-espaço, ou seja, duração-dimensão, vive na permanente ilusão de que esta dupla sucessividade faça parte do mundo objetivo3. Já observara Kant que nada é sucessivo em si, mas tudo é sucessivo em mim; a pseudo-sucessividade está nos meus sentidos, não na realidade; esta é totalmente simultânea, independente de tempo (sucessividade duracional), e de espaço (sucessividade dimensional). A simultaneidade induracional se chama “Eterno (ausência de tempo), e a simultaneidade indimensional se chama “Infinito” (ausência de espaço).
Por que é que o homem é uma permanente vítima da ilusão de tempo e espaço?
A fim de poder existir como indivíduo. Os nossos sentidos, diz Aldous Huxley, são válvulas de redução e de retenção, graças às quais o homem existe como indivíduo (ex-sistir = ser colocado para fora). Se o homem sofresse o impacto total da Realidade, da Luz Integral do Ser, seria aniquilado. O homem existe graças às suas limitações. tempo e espaço são como que luzes suavemente dosadas para que o indivíduo humano possa suportá-las indene.
Voltando ao nosso ponto de partida, Schroedinger afirma que essa visão de Einstein sobre tempo e espaço é “o pensamento religioso” dele. Repetidas vezes, o autor do recente livro sobre Einstein, Ronald W. Clark, frisa este fato paradoxal de que Einstein era um cientista que muito falava em Deus. Os cientistas materialistas do século 19 evitavam cuidadosamente usar a palavra Deus, com medo de empanarem o esplendor da sua glória de cientistas autênticos e 100% sérios. J. W. Hauer, no seu livro monumental Der Yoga, explica esse pavor supersticioso de muitos cientistas ocidentais, ao passo que no oriente não ocorre essa superstição anti-divina e anti-religiosa. No oriente, Deus e religião nada têm que ver com teologias, seitas, igrejas, grupos sectários, como muitas vezes acontece no ocidente; no oriente Deus é a alma do Universo, a suprema e universal Realidade; e a religião é a re-ligação consciente do homem com esse poder Infinito, perfeitamente compatível com a ciência do homem. No oriente o verdadeiro sábio é o santo.
Quando Clark apresenta Einstein como um homem profundamente religioso, e quando Schroedinger vê na idéia da simultaneidade de tempo e espaço de Einstein o pensamento religioso dele, voltam eles ao conceito de religião no verdadeiro sentido filosófico do termo: de re-ligar.
Einstein nunca professou sectarismo de espécie alguma, mas foi um homem profundamente religioso, no sentido da matemática, da metafísica e da mística. Para os teólogos deve ele ter diso um ateu – mas para os verdadeiros filósofos era um místico, no bom sentido do termo.
Na sua visão de simultaneidade de tempo e espaço se encontraram, no espírito de Einstein, a suprema e única Realidade da matemática, da metafísica e da mística.
A constante insistência que Einstein faz no fato de que “o princípio creador reside na matemática” e que a concentração no UNO do Universo faz descobrir as leis do Verso, este fato só é compreensível à luz da única e suprema Realidade do Universo, a que os homens podem dar quantos nomes quiserem, mas que não deixa de ser a única Realidade verdadeira, na qual os homens enxergam tantas facticidades ilusórias.
COMENTÁRIO:
Fiz questão de frisar aquela passagem em que Rohden exemplifica sobre os óculos de Kant. Penso que mereça ser lida com paciência e, kantianamente, com boa vontade.
O leitor arguto (sem querer chamar mais a atenção do que devo) notará que há uma mudança de eixo ou, digamos, uma transvaloração, ou ainda uma certa obliqüidade, bem a propósito, quando Rohden dá uma pista interessantíssima sobre a questão de tempo e espaço, não lá fora, mas cá dentro – como se (aliás, como não… mas exatamente na forma em que se deve pensar) Kant e Einstein se completassem, em teoria e prática (ousando dizer que Einstein praticou Filosofia com Física… mas o leitor há de perdoar-me a metáfora!).
Rohden pode parecer “religioso demais” ou “místico demais” para muitos. Eu, com sua licença, continuo a dizer: há mais coisas escondidas no que diz Rohden, que supõem nossas vãs filosofias!
postado por Ramiro (11/12/2007)
http://www.filosofix.com.br/blogramiro/?p=326

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